No inverno, além das azaléias, do ipê, das bromélias, há a singela beleza do pessegueiro com suas flores rosadas e seus galhos lisos. Lembrei-me então do poeta que lia muito na minha adolescência. Mais precisamente desse poema:
12 de Setembro - Álvares de Azevedo
O sol oriental brilha nas nuvens,
Mais docemente a viração murmura
E mais doce no vale a primavera
Saudosa e juvenil é toda em rosa...
Como os ramos sem folhas
Do pessegueiro em flor.
Ergue-te, minha noiva, ó natureza!
Somos sós — eu e tu: — acorda e canta
No dia de meus anos!
II
Debalde nos meus sonhos de ventura
Tento alentar minha esperança morta
E volto-me ao porvir...
A minha alma só canta a sepultura
E nem última ilusão beija e conforta
Meu ardente dormir...
III
Tenho febre... meu cérebro transborda.
Eu morrerei mancebo, inda sonhando
Da esperança o fulgor...
Oh! cantemos ainda: a última corda
Treme na lira... morrerei cantando
O meu único amor!
IV
Meu amor foi o sol que madrugava
O canto matinal da cotovia
E a rosa predileta...
Fui um louco, meu Deus, quando tentava
Descorado e febril nodoar na orgia
Os sonhos de poeta...
V
Meu amor foi a verde laranjeira
Que ao luar orvalhoso entreabre as flores,
Melhor que ao meio-dia,
As campinas, a lua forasteira,
Que triste, como eu sou, sonhando amores
Se embebe de harmonia.
VI
Meu amor!... foi a mãe que me alentava,
Que viveu e esperou por minha vida
E pranteia por mim...
E a sombra solitária que eu sonhava
Lânguida como vibração perdida
De roto bandolim...
VII
Eu vaguei pela vida sem conforto,
Esperei o meu anjo noite e dia
E o ideal não veio...
Farto de vida, breve serei morto...
Não poderei ao menos na agonia
Descansar-lhe no seio...
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